Alguns alunos entraram correndo no banheiro para verificar o que havia acontecido, pois o barulho havia sido preocupante. Hakkai estava sentado no chão com a mão machucada enquanto tremia: ”Eu não aguento mais isso!” Mais tarde na enfermaria, o diretor havia chegado para perguntar o que houve lá.
— Eu não quero falar sobre isso, me deixa em paz. — O garoto dizia virando seu rosto, enquanto apertava sua mão enfaixada.
— As coisas não funcionam assim, rapaz! Você não pode simplesmente quebrar o espelho do banheiro masculino e fingir que nada aconteceu! — O diretor o pressionava.
— Faz o que quiser. Me expulsa ou sei lá, tanto faz...
— Eu tenho algo melhor pra você. — Ele murmurava tirando um pedaço de papel do bolso.
— O que é isso? — Hakkai indagava.
— Não vim falar sobre o que aconteceu, estou aqui para falar sobre o que vai acontecer.
— Hã? E o que vai acontecer? Vai mandar uma “cartinha” pra minha mãe? — o garoto escarneava.
— Você está ouvindo vozes, não é? — O diretor dizia, enquanto Hakkai mudava rapidamente sua expressão facial.
— Como você sabe disso?!
— Está chegando, garoto. Sua vida vai mudar completamente a partir de hoje.
— Do que você está falando, caramba!
— Eu não consigo te explicar, eu sou só o informante. Vá até esse local e descubra o que você é!
Enquanto conversavam, a polícia entrou no quarto. Aquele não era o diretor, mas apenas o garoto via nele o rosto do diretor, o que o deixava confuso. “Corra, Hakkai! O tempo está acabando!” ele gritou enquanto os policiais o tiravam de lá. Aquele homem havia invadido a escola com o intuito de falar com Hakkai, prendendo o diretor inconsciente em sua própria sala. Quando o diretor acordou, ligou rapidamente para a polícia.
— Que merda foi essa?... — Ele se perguntava.
Algumas horas depois, já em sua casa.
Hakkai estava deitado, pensativo, o que aquele homem queria dizer? Que lugar é esse? Nada disso fazia sentido em sua cabeça. ”Eu preciso ir ver isso.” Ele pensava enquanto se levantava, arrumando sua mochila e partindo para o local misterioso do papel. Não era tão longe, na verdade, era um local conhecido por ele há muito tempo, o bar Eisen. Já eram dez da noite e o bar estava fechando, havia apenas o barman lavando os copos usados naquela noite.
— Eai... Eu queria uma informação. — O garoto dizia, já se sentando no banquinho do balcão.
— Sobre o que? — O barman se virava.
— Sabe o que é isso? — E então ele entregava o pedaço de papel ao homem.
— Droga... Vai embora daqui, garoto... — O homem dizia devolvendo o papel calmamente.
— Você sabe o que significa, não é? Me ajude!
No papel haviam algumas coisas escritas, a localização do bar Eisen, um horário bem especifico “22:47” e algumas frases em uma língua na qual Hakkai não conseguia decifrar.
— Você acordou rápido, isso não é bom... Vem comigo! — O barman dizia indo em direção a uma porta do outro lado do balcão.
Entrando lá, via-se um quarto pequeno com várias escritas na parede e muitos desenhos estranhos no chão, mas o que mas chamava atenção era aquele pequeno pedaço de espelho que brilhava intensamente em cima de sua bancada.
— O que é aquilo? — Hakkai apontava para o espelho.
— Uma porta, mas isso não vem ao caso. Eu vou lhe explicar tudo, por favor, sente-se. Meu nome é Kurai, a propósito.
Há dezessete anos atrás, houveram muitos relatos de pessoas se envolvendo com atos espirituais, atos esses que lhes traziam benefícios a curto prazo. Makime era uma mulher de trinta anos que sempre sonhou em ter um filho, mas nunca conseguiu, ela tentou várias e várias vezes, com vários tipos de homens e até mesmo se prostituiu na tentativa de engravidar, mesmo que o pai fosse desconhecido, ela simplesmente queria um filho. Anos foram se passando, desacreditada que pudesse vir a ter um filho, a moça orava incansavelmente para que Deus lhe abençoasse com um lindo filho saudável, mas suas orações nunca foram atendidas. Cansada de pedir para alguém que fingia não ouvir, ela cogitou na possibilidade de orar para outra entidade, afinal, se Deus não a escutasse, talvez o Diabo...
Eram três da madrugada, as velas cercavam a mulher em seu quarto, era a hora de conseguir o que queria. “Apare Satanas, me sanguine tuo imbre ablue et optima mea profunda exple.” Ela gritava em seu quarto enquanto as velas caiam e o chão tremia. Ele estava alí.
— Minha filha, não chore... Eu posso lhe dar o que procura! — Aquela figura imponente com olhos avermelhados murmurava em sua orelha.
— Me dê um filho... — A moça dizia se curvando reverentemente.
— Com uma pequena condição... — Ele olhava profundamente em seus olhos.
— Eu aceito qualquer coisa, por favor!!
— Pois bem! Curve-se perante ao Suserano no caos! — Ele dizia enquanto tocava o corpo da garota vagarosamente.
Alguns meses depois, Makime havia confirmado que estava grávida, sua felicidade era enorme e ela não ligava para as consequências, o que importava era ver seu filho bem. Ao nascer, ela lhe nomeou Shin Hakkai; um garoto saudável e forte com lindos cabelos brancos e olhos castanhos. Ao quinze anos de idade do garoto, Makime morreu misteriosamente, os médicos disseram que foi uma doença mas evitaram dizer qual doença era, o caso foi deixado de lado pois não era de muita importância aos médicos e Hakkai havia acreditado nas palavras dos profissionais, mas nunca havia sido verdade.
— Eu... Sou fruto de um pacto?... — Hakkai perguntava espantado.
— Eu sinto muito pela Makime... Ela foi uma grande amiga. — Kurai dizia de cabeça baixa
— Para de zoar com a minha cara! Essas coisas nem existem!
— Seus pesadelos e as vozes que você ouve também são brincadeira? Olhe ao seu redor, garoto.
— Para... — Ele pedia enquanto seus olhos enchiam de lágrimas
— Ela te deixou um fardo imenso, uma responsabilidade na qual só você é capaz de cumprir.
— Para, por favor... — O garoto estava chorando, mas não de tristeza, de alívio por saber toda a verdade.
— Não chore, levante sua cabeça e mostre para que veio ao mundo, Anátema do fim.
Novamente se via aquele fenômeno estranho, aqueles brilhantes olhos vermelhos estavam em lágrimas de coragem.