Na segunda-feira, David chegou à agência cinco minutos mais cedo.
Foi recebido apenas pelo som do ar-condicionado e das teclas ao longe. Mas, de alguma forma, o ambiente parecia menos cinza do que o habitual.
Sentou-se, ligou o computador.
Colocou a pequena samambaia da dona Irene ao lado da tela, em um potinho de cerâmica que tinha guardado de outra vida.
— Trouxe reforço emocional pra essa mesa? — perguntou Clara, aproximando-se com um copo de café na mão.
— Um presente.
— De quem?
David hesitou por um segundo.
— Uma senhora que me ofereceu água quando precisei. E conversa quando eu não sabia que precisava.
Clara sorriu. Não insistiu.
— Ela tem bom gosto. Essa plantinha já mudou o clima da sua mesa.
Lucas chegou alguns minutos depois, com fones no pescoço e um pacote de biscoitos nas mãos.
— Bom dia, senhores do design emocional.
— Você inventa esses títulos ou sonha com eles? — brincou Clara.
— Acordei inspirado.
Lucas se sentou ao lado de David, abriu o pacote e empurrou na direção dele.
— Quer um?
David pegou um biscoito.
Era doce demais, mas o gesto tinha o sabor certo.
Ao longo da manhã, trabalharam lado a lado, como se aquele pequeno trio já tivesse criado uma órbita própria dentro do caos criativo da agência.
Clara saía e voltava com piadas.
Lucas falava sozinho enquanto desenhava.
E David... ouvia. Presente. Sem a vontade constante de desaparecer.
No final do expediente, Clara olhou para os dois e disse:
— Tô pensando em fazer uma noite de pizza lá em casa no sábado. Vocês topam?
Lucas ergueu os braços.
— Claro! Pizza de quê?
— A que vocês pedirem. Desde que tragam sobremesa.
Olharam para David.
Ele demorou um pouco, mas respondeu:
— Tá bom. Eu levo refrigerante.
— Tá prometido — disse Clara.
> E naquela noite, David foi embora sem pressa.
O mundo lá fora ainda era o mesmo — buzinas, pressa, gente distraída —
mas ele sentia que tinha uma mesa onde as pessoas esperavam por ele.