Capítulo 7 – O som pequeno das presenças

Na segunda-feira, David chegou à agência cinco minutos mais cedo.

Foi recebido apenas pelo som do ar-condicionado e das teclas ao longe. Mas, de alguma forma, o ambiente parecia menos cinza do que o habitual.

Sentou-se, ligou o computador.

Colocou a pequena samambaia da dona Irene ao lado da tela, em um potinho de cerâmica que tinha guardado de outra vida.

— Trouxe reforço emocional pra essa mesa? — perguntou Clara, aproximando-se com um copo de café na mão.

— Um presente.

— De quem?

David hesitou por um segundo.

— Uma senhora que me ofereceu água quando precisei. E conversa quando eu não sabia que precisava.

Clara sorriu. Não insistiu.

— Ela tem bom gosto. Essa plantinha já mudou o clima da sua mesa.

Lucas chegou alguns minutos depois, com fones no pescoço e um pacote de biscoitos nas mãos.

— Bom dia, senhores do design emocional.

— Você inventa esses títulos ou sonha com eles? — brincou Clara.

— Acordei inspirado.

Lucas se sentou ao lado de David, abriu o pacote e empurrou na direção dele.

— Quer um?

David pegou um biscoito.

Era doce demais, mas o gesto tinha o sabor certo.

Ao longo da manhã, trabalharam lado a lado, como se aquele pequeno trio já tivesse criado uma órbita própria dentro do caos criativo da agência.

Clara saía e voltava com piadas.

Lucas falava sozinho enquanto desenhava.

E David... ouvia. Presente. Sem a vontade constante de desaparecer.

No final do expediente, Clara olhou para os dois e disse:

— Tô pensando em fazer uma noite de pizza lá em casa no sábado. Vocês topam?

Lucas ergueu os braços.

— Claro! Pizza de quê?

— A que vocês pedirem. Desde que tragam sobremesa.

Olharam para David.

Ele demorou um pouco, mas respondeu:

— Tá bom. Eu levo refrigerante.

— Tá prometido — disse Clara.

> E naquela noite, David foi embora sem pressa.

O mundo lá fora ainda era o mesmo — buzinas, pressa, gente distraída —

mas ele sentia que tinha uma mesa onde as pessoas esperavam por ele.